A chegada dos primeiros seres humanos a Marte está cada vez mais próxima. A estação marciana criada para receber humanos e animais domésticos está quase concluída, faltando apenas que os astrobots certifiquem todos os sistemas, para que não haja quaisquer dúvidas sobre o oxigénio que estará disponível para os 5 anos da 1ª missão e qual a água existente para os primeiros meses, enquanto não for possível aproveitar as reservas existentes no planeta.
Todos foram geneticamente atualizados para não necessitarem de muito oxigénio nem água, mas ainda há muitas situações que estão fora de controlo e não existirão muitas possibilidades de corrigir eventuais deficiências ou anomalias, apesar das naves logísticas que irão estar permanentemente em circulação. A 2ª missão só partirá no final do ano, quando a 1ª marciar, e levará 2 anos a chegar à primeira aldeia de Marte, batizada de Marturbo, palavra em esperanto, língua parcialmente adotada já faz 5 anos e que em boa hora veio por ordem nos neologismos que invadiram todas as línguas mundiais, desde o advento da internet há mais de 40 anos.
Continuo a falar, escrever e pensar em português, como sempre fiz ao longo de toda a vida, mas com a criação constante de novas palavras, aos poucos, o português nativo aproximou-se cada vez mais de todas as outras línguas e nesse sentido muitos povos em boa hora decidiram aglutinar a sua língua mãe ao esperanto. Não fazia sentido que cada um criasse a sua nova palavra. De qualquer modo, os tradukibot4 há muito que resolveram o problema de conversar com pessoas ou máquinas de outros idiomas nativos, seja de forma virtual ou presencial ou até de ler livros noutras línguas, apesar de atualmente já são feitos poucos livros em papel, tal o custo associado à sua impressão e pelos custos ambientais que acarreta. Felizmente, hoje é possível ler ou ouvir tudo o que foi escrito na língua que quisermos. ##ainda guarda livros. E biblioteca municipal???##
Eu ainda sou do tempo em que na escola se aprendiam línguas estrangeiras. Fui aluno do Externato Irene Lisboa há mais de 60 anos e na altura aprendia-se duas línguas estrangeiras. Eu aprendi Inglês e Francês. Hoje raramente pratico o inglês e quase que já me esqueci de tudo, apesar das viagens que ainda vou fazendo. Essa escola funcionou onde atualmente é a “Casa dos Corações”, residência privada, e no jardim público contruído nos antigos pavilhões da escola, através de fundos locais recolhidos de uma petição pública lançada por dois jovens arrudenses e que teve o meu apoio imediato. Nem foi preciso muito tempo para que todo o dinheiro necessário fosse recolhido. Ao fim de 3 dias já tinha sido angariado o valor necessário e a proposta de projeto discutida e aprovada pelos 43 subscritores da petição, que também serão responsáveis pela manutenção do espaço.
A língua portuguesa, no início dos anos 20 era língua oficial de 7 países. Em 2029, os brasileiros resolveram emanciparem-se linguisticamente chamando brasileiro àquela coisa que usavam para comunicar, numa proposta apresentada por um candidato presidencial que viria a ganhar as eleições. Mal chegou ao poder foi a primeira coisa que fez: “O meu discurso é o primeiro feito na nova língua mundial: O brasileiro”. A comunidade mundial na altura não deu muita importância ao assunto e passado algum tempo foi forçada a aceitar a nova designação. Quando era estudante universitário já o Brasil tinha por tradição traduzir literalmente todas as novas palavras que apareciam em inglês. Com o aparecimento da internet, a coisa descambou e todos os analfabetos linguísticos passaram a ser editores e o poder político da altura também promoveu a iliteracia. Na altura, Portugal ainda tentou minimizar com alguns acordos ortográficos, mas sem grande sucesso, até porque os acordos propostos e aprovados também deixavam muito a desejar.
Os outros países que ainda têm o português como língua oficial também aderiram ao esperanto na mesma altura e perderam muito das suas línguas tradicionais, embora em alguns casos tenha sido possível guardar digitalmente muito desse património. A minha bisavó que nasceu em Angola, falava quibumbo, a mais importante língua nacional, mas que também se perdeu no tempo face ao desenvolvimento de Angola e ao avanço da escolarização nos anos 20 feita 100% em português.
Países como o Luxemburgo e o Suíça também reconheceram a língua portuguesa como oficial nos anos 20, face ao número de portugueses que por lá viviam e vivem, apesar de todas as resistências para o fazerem, uma vez que durante muito tempo os portugueses tinham empregos que os naturais desses países não queriam e por isso eram vistos como cidadãos de segunda. Hoje, descendentes de portugueses ocupam cargos de relevo e muitas das profissões dos seus antepassados já desapareceram, estando apenas disponíveis na memória dos mais velhos ou nos arquivos dos museus digitais.